A Felicidade transformou-se num bem de consumo. Capitaliza-se a palavra, como se fosse uma marca. Coloca-se o Ser Feliz na vitrine das redes sociais e nas estantes do mercado de bairro da moda, no rótulo de tudo o que nos impingem para comprar. Feliz é quem mostra amostras de Felicidade barata, lowcost, com filtros Pop. Ora, então, não quero Ser Feliz.
A Felicidade vem em pacotes. Vem de avião na foto da praia #blessed . Dizem até que a Felicidade vem nos pratos de comida, como acompanhamento, entre as batatas e o arroz. Vejo a Felicidade por aí, espalhada, dispersa em Feminismos #beyourself , lado a lado com a mesma Felicidade que diz que ser fit é que é, porque os magros são Felizes... mas os gordos também...porque se aceitam...fazem bem...mas eu vou para o ginásio tirar umas selfies no espelho #workhardplayhard ... mas ser gordo é Ser Feliz, se partilharmos fotografias das estrias e da celulite... Senão não é Ser Feliz, é só ser gordo. Ora, então, não quero Ser Feliz.
A Felicidade é opinativa. Aparece espalhafatosa nos comentários, porque todos sabemos como Ser Mais Felizes e elogio é coisa barata, não importa se nasce da mentira; e a crítica ainda mais barata é, não importa se nasce da inveja. Mas Ser Feliz é ter opinião. É gostar ou não gostar, é dizer que está tudo muito mal (ou que está tudo muito bem), mas se há coisa que a Felicidade não é é silêncio, porque quem cala consente mas Ser Feliz é #eunãopapogrupos. Ora, então, não quero Ser Feliz.
A Felicidade é a árvore que nunca cai sem espectador nesta floresta. Lembram-se da velha questão? Se uma árvore cair na floresta sem ninguém ver, será que faz algum som? Será sequer que a árvore existe? Mas a Felicidade existe!!! Está ali no perfil da Ana Margarida que veio das Caraíbas, e alí, olha alí! No perfil do Pedro que tem um bebé Nestlé perfeito, sempre lindo, a comer a papa toda, todo ele mãos fofas e pézinhos pequeninos... Ah... a Felicidade é Ser Mãe. Quem me dera ter umas fotos mensais da barriga a crescer... Ah!! Mas a Felicidade também está ali na Micaela, a pindérica, sempre na noite em jantares de amigos. Isso é que é Ser Feliz! ... Ora, então, não quero Ser Feliz.
Se Ser Feliz depende de mostrar que se É, ou comprar a Felicidade na piedade alheia quando se mostra não o ser... então não quero Ser Feliz.
Se Ser Feliz é trocar o que sou pelo que devo ser, para preencher um inquérito social sobre a ideia do que deve ser a Felicidade... então não quero Ser Feliz.
Agora venham-me dizer, dedos apontados, "ah mas tu também expões a Felicidade! Afinal também tens uma vitrine" . Sim, mas não a compro, crio-a; também não a vendo, partilho-a. Acima de tudo, por Ela, essa Felicidade de Esquina, não me recrio nem me vendo. E se um dia assim for, se me deixo cair na leva dessa Felicidade... Ora, então, não quero Ser Feliz porque serei outra coisa qualquer que não sou Eu.
Prefiro que Eu me baste para que a felicidade, descapitalizada, pobre na sua euforia, rica na sua constância, não seja algo que se É, mas sim algo que se escolhe ser, em nós mesmos e nunca nos outros e muito menos pelos outros. Acima de tudo, preferia que TU, sejas TU quem fores, quem tenhas sido, ou quem estiveres para ser, Te bastes e te enchas e preenchas de tal forma que o que pões na vitrine desta vida é excesso de Ti que transborda numa felicidade grátis, desapegada e, essa sim... Verdadeiramente Feliz.
Hoje parece que não se é feliz se os outros não tomarem conta desse sentimento. Os outros têm de saber que estamos bem, para o estarmos; temos de sentir que geramos "aquela" inveja para nos sentirmos superiores. Não consigo respeitar quem compromete a sua privacidade, e não só, para ser essa "vitrine", que normalmente, quase sempre, esconde as maiores inseguranças.
ResponderEliminarRespeito sim as contas, pesos e medidas. Estamos numa era em que é difícil permanecermos ilhas, mas que sejamos arquipélagos antes de um continente inteiro, pespegados pelas mesmas coisas que até parece sermos todos separados à nascença.
Mantenhamos a nossa identidade, é só o que temos. E admiro isso em ti <3
Identidade, palavra chave. Devia ter falado disso, bolas! #epicfail :P
EliminarMuita pouca coisa hoje em dia nos resta que seja só nosso, resta a nossa identidade, sem dúvida. Também admiro isso em ti*
Com felicidade ou sem ela, o que eu sei é que tinha saudades tuas e dos teus textos! E não, não é um elogio barato, é mesmo grátis e totalmente sincero ;)
ResponderEliminarEu sou como a felicidade (a verdadeira) só apareço de vez em quando, para não cansar :P o resto do tempo fico de molho, como o bacalhau.
EliminarObrigada* do fundo do coração*
Vim espreitar! E aplaudo o texto!
ResponderEliminarBoa tarde
Que falha que só agora vi o seu comentário. Aparentemente este malandro deste blog andou sem me notificar. Mil perdões e tantos outros agradecimentos pela visita. Uma boa noite!
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