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Mensagens

A mostrar mensagens de março, 2016

Bounce Back

(Des)Ilusões

O maior desafio nas relações humanas parte da incapacidade das pessoas saberem e agirem em conformidade com o que querem. Querem tudo, não querem nada e mais do que isso, esperam que no meio da indecisão, haja sempre alguém igualmente indeciso que os acompanhe na sua incapacidade de querer e fazer. Para cada sonho, existe uma falta de vontade inerente para trabalhar e de sacrificar o necessário para construir uma estrutura sólida. Para cada desejo, existem desculpas que se inventam, prioridades que não se definem e tempo perdido em modo barata-tonta. O mundo gira como se fosse tudo eterno, tudo remediável, num processo de desculpabilização e alheamento das consequências das suas acções. Ninguém se importa com ninguém, porque ninguém se dá o bastante para se importar. Famílias não se constituem, antes, fragmentam-se porque os seus elementos são incapazes de criar prioridades válidas. Os país descarregam nos filhos as frustrações do que não foram, os filhos farão o mesmo aos seus. Os cas

Rasgos

Ouvem-se tambores no outro lado. Pedras soltas rolam pelos muros. A argamasssa do Tempo esfarela-se. Um muro. Todos podem ver, todos olham, A todos cega. Uma criança, Solta, Leve, Olha pelo rasgão no muro. Procura os tambores, Desvia-se das pedras, Sacode a argamassa dos ombros pequenos. A criança olha para cá, Para o lado onde está, O lado seguro, Disse o pai, O lado que deve ser, Disse a mãe. Rolam mais pedras, Caiem bocados já, Os muros são rendados. A criança olha novamente para lá. Dizem-lhe que deste lado é que é, Que os muros estão lá para proteger. Contam histórias de monstros de lá, Fantasmas que roubam infancias, Barbas que escondem armas E Mal, muito Mal por lá anda. A criança continua a olhar, Põe o pequeno dedo no esfarelado rasgo que dá para lá, Força um punho, A curiosidade dá-lhe força, Empoleira-se na sua meninice e olha. Olha novamente. Procura os tambores, os fantasmas, o Mal. Não vê nada. É tudo igual do outro lado do muro. Consegue passar uma perna, Todo o corpo es

Férias Românticas

Ora portanto, um casal normal, quando pensa em férias românticas, normalmente inicia todo um processo de aquisição de uma viagem numa low-cost apertadinha, para ir a Paris ou a Londres, ficar lá uma noite, correr a cidade à pressa, cansar-se e tirar 300 fotos para que uma fique bem. Outro casal normal, quando pensa em férias românticas, vê se o Lisboa Viva tem saldo suficiente para uma viagem na linha CP-SINTRA e vai comer um travesseiro à Piriquita, depois de uma bela noite numa qualquer hostel e de um dia a ver os jardins por fora, porque as entradas são caras 'pra caneco. Mais um casal normal, quando pensa em férias românticas, passa dias a ver as promoções do Odisseias, marca um jantar romântico de pizza à beira mar (que na realidade é mais tipo uma sande de tomate e queijo, quente, numa tasca), e fica num hotel, também ele à beira mar, mas em tempo de chuva, que época baixa sai mais barato. Depois temos outro casal normal, em que os elementos são a Taylor Swift e o Calvin Harr

Mulher

Rasgo de Sol em tempestades, é o que tu és. Raízes de árvore que não cede, apenas tolda para dar os seus frutos, é o que tu és. Se te imaginas fraca, como se de ti tivessem tirado à força os filhos, o futuro, não chores. És a força dos rios e esses seguem sempre em frente, no seu caminho, tal como tu, até ao mar que te espera. Nesse mar serás peixe, serás alga, e a espuma das marés. Serás o sal que seca na pele, é isso que tu és, o sal, o sabor, a textura de tudo o que é, foi e será. De ti tudo nasce, em ti nada morre, nada se esquece, tudo se vinca, como as noites mal dormidas a tratar dos teus. Em ti tudo floresce, tudo brota, de ti tudo vem, és a Mãe, a Filha, a Servente e a Rainha. És tudo Mulher, por isso nunca te faças nada, por que sem ti nada será. Vai. Agora. Sê muito, sê tudo, sê Mulher.

Abram as Janelas - Poema do Sr. do Autocarro

Hoje, no autocarro, entra um senhor de muletas que ao sentar-se começa a gritar a plenos pulmões "Abram as janelas!". Todos olham para o senhor, com ar de sexta-feira (que é igual ao de segunda, mas com mais olheiras) e pensam que é mais um maluco que tem por costume bradar as suas maleitas na rede de transportes. Lança depois estes ditos, que para mim soaram a poema: Acordem para a vida! É assim que ensinamos as crianças a sorrir? Olhem à vossa volta, olhem para a pessoa ao vosso lado. Toda a gente sentada, neste calor, é só ar condicionado. Abram as janelas! É preciso ar corrente. Vêm eles de avião passar cá férias...e nós?! Nem à Fonte da Telha vamos! Como é que vão ser produtivos? Passei a vida toda a trabalhar para isto? (abre os braços) ...Olhem ali as ervas daninhas, a dar flores, e nós aqui, doentes e com tosse. Abram as janelas! Ar corrente! Temos de dormir e comer como deve ser e não só um cafezinho e um queque de manhã. (levanta-se para sair deixando o lugar vago)

Como construir uma casa

Muitas pessoas perguntam-me " Cusca, como é que consegues ser tão racional?". Bem...desengane-se quem pensar assim, não sou assim tanto. Sou, sim, uma pessoa de temperamento forte, muitas vezes irascível, que quando se chateia leva tudo à frente. Então, porque é que tantas vezes me julgam calma e racional, fria até? Simples. Porque sei construir uma casa. Tiveram um momento "wtf?!", mas eu passo a explicar: No inicio da minha relação comigo mesma, nós não nos dávamos muito bem. Eu e a minha cabeça, o desgraçado do coração, o tempestuoso temperamento, as emoções descontroladas...bem, andávamos todos de costas voltadas, amuados, a fazer birras, a ver quem ganhava. Era difícil conviver com tantos Eu's, tantas forças a puxarem para tantos lados, até que um dia percebi que tinha de morar com esta malta toda, e que não tinha escolha senão domá-los. Decidi construir a minha casa : a casa da minha estrutura mental e emocional onde aprenderia a lidar com todos os impulso